sábado, 22 de março de 2014

Chuva, trovão, comida quase no ponto, casa com gente, lua escondida, frio aconchegante, setembro... nunca houve na vida tempo melhor...
A despeito do envelhecimento, quanto de mim se faz burrice insensata. É tão intenso que o desejo de proscrever a vida, pará-la, voltar atrás, virar todo o sentido escorre... escorre nos olhos e na dor latejante da raiva dos minutos distendidos e perdidos em sabe lá no que...
As promessas encontram seus limites nas horas. O momento que as fundamenta muda, e obviamente se desobrigam... em parte péssimo, em outra nada melhor. A vida pode ficar calcada em obrigação des-sentida por sabe lá quanto tempo. Quantas coisas pensei que seriam de certa forma e foram de outra, não foram ou rumaram para o contrário. O orgulho de não voltar atrás ocasiona raiva, muita dela, multiplicada pelo transcorrer do tempo. Hoje a morte bateu na porta daqui, sensação estranha, não ante o momento, perdi o número de velórios que já fui, mas fiquei febril diante do rumo que “ser” pode tomar, ou melhor, que rumo que NÃO se tomou quando era tempo. Vício que levou a renegação de filhos, a não construção de nada e a meros lamentos esperançosos já não tão conscientes da possibilidade que ainda podia. Diante do trago que a coisa tomou, já não era sem tempo.
O dia começa cedo, continua dentro do ritmo de ontem, irracional, problemático, exploratório e cansativo... a ponto de lar significar muita vontade de dormir, e só. Os fazeres desejáveis, como a comida, mesmo a banalidade da televisão ou ousando muito, um livro, estão longe... perdidos em alguma curva. Do conjunto, resta a nítida e claríssima sensação que as coisas devem rumar para outro canto, sob pena do sacrifício da própria juventude.
A experiência só é o que é, se for incompreensível! Absurdamente intendível, mesmo para quem é apunhalado. O tempo é rasteiramente intolerante a isto, muda todos os sentidos, refaz todas as situação, isso levando em consideração o antes, o agora e sabe-se lá o depois... acho que acabei de inventar uma série de palavras... perdoem-me os sãos...
Balanço é medida e não velocidade, nem altura e nem tão pouco frio na barriga. Isso foi o que aprendemos no provar das experiências adultas... Mas não, hoje cresce em mim um amor infantil, menino, sorrateiro e completamente inexperiente, que revê o peso da responsabilidade desnecessária e a troca sem nada refletir pelo sentido descoberto e latente que cresce sutilmente... os anos vem e vão, assimcomo pessoas e folhas... “num dia a gente chega, noutro vai embora...” a mudança faz parte, estou nela, estou fervilhante no meio do caminho em que tinha uma pedra... olho para mim, sem desdém, cru. Meu corpo começa a dobrar perante o tempo... Não é que é idiotice escancarada cunhar a própria cruz e se desvencilhar nela? O MUITO sempre presente nos dias, e agora no fim, uma pausa para desconectar... o abrandar e aliviar da queda parece reservado para minúsculas horas e dias prescritos por quem entende... acabam virando e desvirando rotina. Quero segundas-feiras agradáveis, não depressão nos domingos a noite, quase nada de faustão... só um balanço que se pode ver da sala e árvores para subir e saltar mais vezes, menos peso, malas, arreios... É possível! Principalmente quando o que entra na jogada não é tão somente mais você, mas um certo outro ainda inexplicável, que tem batimentos cardíacos, que ouve, que cresce e me faz recomeçar diferente a cada dia... me faz eu mais simples, e sem dúvida, mais humano...
Hoje, explodindo na garganta está o anseio de desejar, não o breve e minorado, mas o simples e grande... Numa linguagem compreensível, sou incapaz de traduzir tantos votos... tento desacertar isso em batidas de coração apressado, simplesmente aproximando o calor da minha vida ao da sua, o cheiro do meu dia ao seu, o peso da minha carne a serenidade de sua alma pequenina, que recomeça na imensidão do sentido que, sem saber e entender, já criou para todo o resto que ainda me aguarda... Obrigado! E que os dias bons demorem a passar...
Ah o sofrimento! A dor! Tão mais comentados que novela, e cerne delas inclusive! A condição do sofrimento e a sua nefasta mania de não conseguir atravessar a fina pele do corpo e tocar o OUTRO. Pura ilusão da areia do poder! Cochilo no volante e desperto em sobressaltos de realidade pura... tenho medo, muito. Quem não tem? Ele é legitimo. Sigo... consegui sublimar isso uma vez mais, não sei por quanto... Mas sigo. Bem digo, já ouve dia melhor que esse.
Era tarde de uma sexta qualquer, de um ano comum, como aqueles cheios de desejos de transformações, próprios do início de qualquer coisa... a ilusão se perfumou, e vestiu sua melhor roupa, usou seu perfume mais provocante e sua melhor voz... Foi aí que tranquei a porta, desliguei o computador, e dei uma pausa no contínuo chato dos dias... afirmar que já houve semanas melhores, é controvérsia pura, mas sei que há o resto novo, que ainda não tomou partido, nem pela tristeza nem pela alegria...
São três. Três como qualquer conjunto, seja do dia ou noite. Não me sinto no direito de entrecortar o contínuo do seu sono já leve, que aguarda somente o romper do sol. Fostes tão sutil e carinhosa horas atrás, que sinto que é injustiça uma conversa sobre bois e ovelhas tão tarde da noite. Se o sacrifício é lógico, que ao menos um faça isso, pra que dois? Meu bem, não despedirei de você como gente por aí, que capaz é de inventar mágoas que inexistem, soando como desculpas para situação. Meus votos, tão simples, foram honestos, plenamente sinceros, ainda que imbuídos de emoção. Foram cunhados na avidez da razão, e refletidos palavra a palavra. A coisa foi tomada a sério quando decidi juntar meu passo ao seu na estrada. Não será a fraqueza fortalecida em horas de solidão, que fará mudar o que já está feito. Ah meu amor, que junto a mim vem descobrindo o quão suave e pesada pode ser essa vida, que junto a mim nutre esperança e temor do futuro, quanto desejo coloco em ti, e quanto de mim em você deságua feito ribeirinho em época de chuvas, buscando somente a limpeza de suas águas turvas. Tem significado pedra erguida em forma de coluna, riste e imponente! Passaram-se trinta, vale mais uma tentativa. Os projetos devem seguir, adiante, avante! Sigo por você, sigo por nós, sigo por nossas promessas refeitas e ajustadas tantas vezes. Você deve já saber, mas vale a lembrança: te amo.
A dor tem ocupado meus dias, principalmente quando ele termina. Tem se intensificado quando o sangue esfria, assim que o barulho cessa. No burburinho quase nem a sinto, e a extravagância entorna, mas quando o sol se põe, a pena se perfaz. Pago o preço. Alguém um dia disse que tudo tem um, algo há de ter, renúncia ou ganho, mas sem nada, é que não. As noites do lugar onde moro são belíssimas, mesmo sabendo que o céu é o mesmo em todo canto. Deve ser a quietude, tão próxima de mim e tão longe do que eu deveras faço. Vejo sua empolgação com a vida, com a grama que não foi plantada, com o mato que não foi queimado. Lembro ternamente do cuidado com os pingos de tinta acidentalmente caídos no chão e bem mais, do seu desejo do bem, especialmente o meu. Os planos, que me pareceram piadas de imediato, tomam corpo a partir da sua insistência, insistência essa que me joga pra outra quina necessária. Não é que o risco, tão perto do que de fato sou, contaminou seu jeito de ver o após. Meu bem, não se esqueças do bem que me fazes e dos sambas ouvidos na obrigação do caminho das manhãs de muito sono... Quanto de mim tem desaguado inteiramente em você. Minhas águas não são mais turvas, ganham outra cor, quando simplesmente coloco seus olhos no lugar dos meus, e vejo com eles minha própria condição.
É domingo, e na sua pior hora, aquela depois da missa, em que o pesar dos afazeres se faz refrão, repetidamente em sua cabeça. Em outros tempos eu era forte, mas hoje, a fraqueza entrou sem bater, e pior, estava bêbada e agora dorme profundamente...
Enquanto o silencio era quebrado vez ou outra por algum risco de vento, a foto do celular se distanciava da visão que tive das sombras vespertinas no sofá da casa. Era segunda, a mesma que angustiou os domingos e colocou sem sono a paz da madrugada... Quando em quando, bandos de patos sobrevoam alto. É interessante livrar-se dos relógios, e perder-se. Devo sofrer de dias de fome, quase sempre voluntárias. Tento me mexer pouco e lembrar de coisas agradáveis, algo que fosse capaz de visualizar pelo aroma... nesse ensaio, retorno, sem muita dificuldade, aos dezembros. Não sei se devo, pois tudo está no começo ainda, e as luzes já foram apagadas e encaixotadas. Nesse empolgante contar de folhas, bancos, pratos, ... lá se vão sete. Meu Deus! Minhas exclamações nunca estiveram tão ristes a rotina!
Por sempre, e tem sido assim, acomete-me uma estranheza, que prolonga demais o dia, tira o sono e corta a noite pela metade.
Você chegou e nem era tão cedo, já passava do meio dia, com o sol esfriando. Entornada em roupas fora do clima, já nem fazia questão de ter tapetes vermelhos a espera. Pois bem, isso foi até o encontro de cd’s antigos que te fizeram recordar de amigos esquecidos, depois, foi só lágrimas e sono entrecortado. Corte saudoso do momento para outro, imbuído de cheiro, som, risos e falta de nada!