quinta-feira, 30 de abril de 2009

Duas horas


Hoje parei.
Apesar de tanta coisa esperando ser feita eu parei.
Interrompi a vida por instantes. Por momentos só. Sentei e contemplei.
Achei um antigo desenho que fiz ainda na infância, bobeira...
Eles eram todos iguais...
Nunca soube desenhar, mas mesmo assim rabiscava.
Nem sei se por obrigação ou por gosto.
Mas fazia.
Imagem extremamente simples e ilógica: dois sóis no céu, muitas nuvens...
uma casinha velha...
chovia.
Minhas míseras pinturas sempre choravam
Duas pessoas em cima de uma montanha e algumas árvores.
Paradas.
Inertes.
Ali.
Eternamente, desde o dia em que eu as coloquei lá.
Não sei mais nada... mas parei pra pensar...
Duas horas!
Duas horas da tarde!
Poderia ser qualquer hora do passado...
Mas eu parei exatamente nas duas horas que sempre demoravam muito...
Voltei sem pesar ao tempo em que o tempo passava devagar e as tardes...
Ah as tardes...
As tardes eram cheias de encantamento e eu acreditava em tudo.
Hoje tudo passa depressa e eu não sinto, não acredito
Essa foi a hora... a mais importante hora...
Lembro-me com saudades das duas horas, era o instante de entregar o espírito ao Pai...
A minha hora...
Não sei bem explicar, mas minhas boas lembranças se remetem sempre às duas horas...
Que não são mais
só existem no relógio
Devia ser a posição do sol que me eternizava
Ou mesmo o vento... ou ainda o pé de tamarindo azedo...
Segurança.
Quando tenho medos de gente grande, lembro me disso.
Quando a confiança e a fé falha...
Ah... trago-a de volta a mente para levantar
Volto atrás e brinco com o mosaico de imagens
Uma após outra... numa velocidade que me desfragmenta!
Árvores, gramas, céu, sol, nuvens...
De tão rápido, parecem até pintura a óleo... borradas...
Recordo-me com saudades de algumas duas horas
São poucas, mas o tempo é meu e tenho sim a capacidade de eternizá-lo
De confrontá-lo com o mínimo de estação cronológica
Com os poucos anos que me é dado
Agora e hoje
Hoje e não sei quando até.
Brincadeiras de criança
Quanto de mim ficou por lá?
Quanto?
Mas por hoje são só às duas horas
Essas duas mesmo que me fazem mais humano.
Humano imódico humano.
Duas...
Duas horas...


Lariucci